Corpos políticos em uma íntima interação com o virtual. Visualizar é denunciar?

A ascensão de um governo de extrema direita causou impactos severos no Brasil nos mais diversos setores. Muito se discute e muito se compartilha. Encaminhar. Enviar. O digital abraçou o novo mundo e nós abraçamos de volta. A facilidade de ter qualquer conteúdo na palma da mão nos trouxe uma comodidade confortável. Não precisamos gritar, podemos colocar tudo em caixa alta.

Talvez essa comodidade tenha tirado um estado de alerta que devemos sempre manter ativado dentro da gente. Um estado de vigia. O fascismo não dorme, e sempre busca espaço para se enraizar por tudo que nos cerca, e com a arte não seria diferente, por que seria?

Pensar no virtual como um aliado me remete ao documentário Quem Tem Medo? (2022) com Direção de Henrique Zanoni, Dellani Lima e Ricardo Alves Junior. O filme busca denunciar artistas que tiveram suas performances censuradas em consequência da crescente viral fascista nos últimos anos. 

Documentário quem tem medo? (2022) Foto: Renata Ramos


Para além de pensar na censura, devemos analisar o papel do espaço virtual nessa dinâmica. Em como as agressões começam sem nome e endereço nas redes sociais. Um verdadeiro conglomerado de fotos despersonalizadas. Bots
? Difícil distinguir. Ao mesmo tempo encontramos o digital como um vetor capaz de imortalizar o que já não se mostra possível no cenário atual. Performances que se construíram da pior forma no imaginário coletivo; HOMEM NU DEIXA CRIANÇA TOCAR EM SEU CORPO. MAMADEIRA DE PIROCA. O FIM DA MORAL E DA  FAMÍLIA. 

Como controlar esse abstrato terrível que criaram sobre toda e qualquer manifestação artística que não se vê engessada nos moldes conservadores? Enxergo no digital a possibilidade de imortalidade. A rejeição da censura. 

Já perdemos tanto nesse período sombrio. Não podemos perder o espaço digital também. Precisamos cada vez mais ocupar redes, software, aplicativos. Mas tudo isso com uma diferença, uma grande diferença; nós temos a humanização ao nosso lado. Nos precisamos enxergar o outro. Visualizar não é denunciar, mas também pode ser. Nossa luta precisa ser imortalizada nas redes mas também precisamos cuidar dos nossos lado a lado. A ruptura desse bicho papão vermelho que mora no imaginário coletivo precisa se solidificar, um trabalho árduo e constante. O conhecimento é o melhor caminho, e com um click podemos começar a fazer isso. Por que não


Renata Ramos. 

 


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