Quem tem medo? - HIRLANE CRUZ

    

    Assistir a este documentário me fez reviver tantos momentos difíceis e compreender, e que por muitas vezes durante estes últimos anos, eu escolhi, coloca-los de lado para poder ter um pouco de ar, respirar, viver "bem".

    Após o documentário Betão falou sobre a importância do ato artístico como sendo um ato revolucionário em si e, a todo momento, a minha sensação vendo aquelas produções e vendo os desafios de realizá-las, já que o documentário trata justamente do avanço destas ações deliberadamente violentas e desta onda contra a disseminação da arte e de sua essência libertária, há um sentimento profundo da necessidade de cuidado e também de muito medo, a medida em que também iriam repassando, e portanto eu revivendo, os discursos de ódio, as peças institucionalizadas que configuravam a reprodução destes também discursos de ódio. 

    Em um primeiro momento acho que foi de muita inquietação, medo e sofrimento. Mas depois eu me apeguei ao título e a tudo que aqueles artistas atravessaram, e entendi que o medo não lhes debilitaram, não os paralisou, mas os impulsionou, lhe dando guiança para plena compreensão do caminho que deveriam seguir e isto, de alguma maneira os fortaleceram. 

    Muito diferente do medo que paralisa os ignorantes, que diante da falta de compreensão absoluta, talvez busquem sua harmonia em uma simetria própria e atravancada. Não conseguem avançar diante do medo do que não conseguem compreender em reciprocidade e equivalência e portanto julgam que precisam destruir o que em verdade, nos potencializa: a diversidade.

    A montagem fala por si, a comunicação é direta e recheada de informações contextuais que nos fazem ter a dimensão dos que 'eles' tem medo. É também um alerta para que sigamos vigilantes, pois apesar de termos consciência da existência das agressões e do sentido de alvo que sempre existiu para as comunidades artísticas por exemplo, esta retirada do vel sútil e fragilizado, fez corpo para uma sociedade adoecida e fez dilatar em pouquíssimo tempo histórico os perigos proeminentes deste volume. 

    Estes depoimentos vivos me fazem mais uma vez questionar nosso desafio enquanto sociedade e nossos medos dos enfrentamentos enquanto cidadão, mas a força impressa nas palavras faladas de uma maneira tão próxima, enquanto eles se preparavam ou enquanto estavam no palco, fez esperançar meu coração, bem como o bate-papo que tivemos após o documentário atravessando pontos de vistas e reencontrando também caminhos de remanso e esperança. Obrigada!

    *Esta foto faz parte do meu primeiro ensaio fotográfico, fruto de algumas inquietações trazidas através das vivências durante a pandemia - https://convocatoriapef2020.medium.com/tempo-suspenso-e0eaa94d869b - Ensaio completo.