A música eletrônica que transcende a linguagem binária

Apesar da ausência de visibilidade a comunidade LGBTQIA+ tem se solidificado cada vez mais no cenário da música eletrônica. Artistas como Arca e Kim Petras constroem uma atmosfera diversificada com uma qualidade criativa que transcende espaço e tempo. 

Em 2011 Kim Petras já possuía uma relação íntima com a internet. Usava o YouTube como um diário virtual onde postava vídeos sobre seu dia e covers de cantoras pop como Britney Spears.

Em 2013 saiu da Alemanha para morar em Los Angeles e começou a trabalhar com famosos produtores, como The Stereotypes (produziu artistas como Justin Bieber, Bruno Mars e Cardi B). Divulgava seus primeiros projetos no SoundCloud plataforma conhecida entre artistas independentes. Lançou “STFU” na plataforma em 2014 com o apoio do produtor Aaron Joseph, com quem trabalha até hoje.

Em agosto de 2017, lançou “I Don’t Want It At All”. Com muita influência pop e batidas eletrônicas. Recebeu indicação pela Paper Magazine como uma das artistas que tinham o potencial para dominar as paradas de música pop e participou da música “Unlock It”, de Charli XCX e Jay Park.

E no dia 1º de outubro em 2017, Kim lançou o album que foi o grande divisor de águas em sua carreira: o EP Turn Off The Light, vol. 1, com músicas inspiradas no Dia das Bruxas.


Para compor a ambientação macabra o albúm possui a participação de Elvira, a Rainha das Trevas (Cassandra Peterson), a protagonista do filme de horror de 1988. Como uma artista trans que teve sua vida pública desde muito nova Kim luta até hoje para sair do cenário underground e ter seu trabalho reconhecido e valorizado cada vez mais.

Alejandra Ghersi, conhecida como Arca, é uma compositora, produtora e DJ  nascida em Caracas, Venezuela, mas que hoje reside em Barcelona. Arca, diferente de Kim Petras, possui um som bem mais eletrônico experimental. Seu estilo é chamado de avant-pop, além do EDM (vertente da música eletrônica, sendo esta produzida para fins comerciais, abrangendo o público de todos os outros gêneros) presente em suas músicas.

Ela já tem nove álbuns de estúdio, todos aclamados pela crítica. O Arca, de 2017, foi o primeiro em que escuta sua voz nas faixas e é o seu trabalho com uma nota altíssima no Metacritic (87), seu álbum KiCk I foi indicado à categoria de Melhor Álbum de Dance/Eletrônica da 63. ª cerimônia anual do Grammy Awards.


Sua arte por muito tempo foi desvalorizada. "esse barulho é música?". Ruídos. Um discurso arcaico quando pensamos nas infinitas possibilidades sensitivas que artistas como Arca,  Bjork e FKA Twigs podem nos proporcionar. Apesar da dificuldade digestiva do publico geral com seu trabalho, Arca nunca demonstrou se abalar.

Sempre acreditando no seus projetos e usando da música como uma manifestação política soube desenvolver um espaço só seu na indústria da música eletrônica, se destacando cada vez mais com uma autenticidade invejável. Arca se declara como não-binária e disse preferir ser chamada com “ela/dela”.


Renata Ramos.


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