Música Eletrônica - Do transatlântico ao transgalático - Danielle Giron
Sob a condução impecável do timoneiro musical Cristiano Figueiró
Imagem ao lado: Afrofuturismo, Thais Silva, @Blackcollage, para revista Marie Claire
“Não dá para aprender sem se mexer. A música exige imersão e adoração. Baixa aí um app e let´s move!” - minha autoria
PERFORMAR
E eu que pensava que estava a frente do meu tempo e fui desafiada, nas aulas do componente “Ação Artística” (Cristiano Figueiró) a aprender uma nova (para mim) linguagem de programação? Tive que aprender a desenhar usando os comandos do P5, nada fácil... Então a plataforma Sunvox, que Cristiano nos apresentou nesta aula - como convidado - que agora descrevo, me pareceu até bastante amigável.
Amigável mesmo com a disposição vertical dos módulos musicais, que o professor usou para “construir um design de timbres”. Não que eu conheça muito a disposição horizontal também, mas é o que o olho se acostumou a ver esse sentido especial nos gráficos que nos inundam as notícias e as aulas de matemática e física.
Pois é... o Sunvox é um aplicativo de tipo “tracker” que usa uma disposição vertical incomum. O tracker, como nos descreve Cris (desculpa aí a intimidade) é um programa leve, que roda em qualquer máquina, de código aberto. Então dá para entender porque essa “interface de criação musical” foi adotada pela galera que, sem muitos recursos para adquirir instrumentos, ou mesmo plataformas mais pesadas, que exigissem equipamento mais caro, abraçasse, convicta a ideia de “comunidade musical”. Maíra Neiva Gomes do coletivo Observatório das Quebradas, no artigo “Wakanda é aqui: Funk é afrofuturismo” (http://vaiter.org/afrofuturismo/) explica outros porquês: “A Favela é um lugar público compartilhado, onde quase nada é privado. O lugar dos corpos, aqui, é junto a outros corpos. Aglomerados, segregados, silenciados, eles buscam resistir a sua própria estigmatização”.
Cristiano nos introduz à Demoscene, uma comunidade de artistas independentes de música eletrônica e audiovisual que utilizam a ética do “do it yourself”, ou diy. (Uau! Na minha cabeça diy era a ética dos youtubers da construção e caixinhas decoradas de papelão e, já me desculpem, nada contra).
Afrofuturisticamente, uma viagem audiolisérgica
Mais nos primórdios do Hip Hop, os loops produzidos pelos DJ’s originaram esse tipo de som, um ritmo - originalmente sintético. Pilotando a plataforma e fazendo os alunos mergulharem na experiência sensorial, Cristiano explica o drum & bass, produzido nos anos 80/90, com influência do funk americano e dub jamaicano ( e eu que nunca tinha ouvido falar? Pega o link e olha aí: Dub Jamaican.
Agora já sei que o dub jamaicano foi o “pai da música eletrônica -primeiro estilo popular eletrônico” e é nativo digital, e não acústico (apesar de vir com as reggae roots). O som é amplamente sintético (estou ouvindo aqui) lembra mesmo o reggae, tem muito eco e sons estranhos (glitch hop), quase espaciais – ou o que a gente imagina serem espaciais.
Ouça aí esse remix do Scientist, na verdade o jamaicano Hopeton Overton Brown, que era engenheiro de som, no álbum Space Invaders, de 1982 (https://www.youtube.com/watch?v=0T3tg6Xwt7A).
Esse som já introduz e se relaciona com a temática afrofuturística: a “Mostra Afrofuturismo, Cinema e Música em uma Diáspora Intergaláctica”.
A mostra inaugura este movimento cultural que surgiu lá pelos nos anos 80/90, constituída por uma série de manifestações artísticas e culturais do movimento negro, temáticas afroamericanas da diáspora e expressão máxima na música, mas que também teve espaço também na moda e na escrita (com as ficções afrofuturistas). Tinha pretensões decolonialistas e colocava a africanidade como protagonista e não como mera expectadora da cena cultural.
Vamos nos apropriar dessa terra, desses espaços, do espaço sideral, afinal, como diria Sun Ra, “Space is the Place” (https://www.youtube.com/watch?v=djBKQNVj5Cc).
Funk, rap, hip hop brasileiro
Estamos prontos a atracar no porto da expressão brasileira do afrofuturismo. Por aqui também tivemos um Festival de Afro Futurismo. Ele aconteceu em 2009.
Cristiano certifica: o Funk brasileiro é o elo de ligação de todos esses estilos: o funk, soul, jazz, o som brasileiro e o jamaicano. Tem matriz africana, foi feito nas américas e traz elementos da tecnologia. Cristiano utiliza a plataforma para mostrar a reconexão da música com o som.
“Perceba: música… e som… são conceitos distintos. As notas musicais são uma abstração, são símbolos, que acabam virando som. Então nestas manifestações musicais, a música de matriz africana não usa os conceitos da música europeia, que utiliza a abstração da notação musical (do-re-mi-fa-sol-la-si) mas sim uma reconexão com o som, em suas infinitas variações".(ele disse mais ou menos isso)
E a aula show termina sem terminar. Termina deixando mil perguntas no ar, muita vontade de saber mais. Como toda aula deveria ser, né? Show!
Sobre mim: Danielle Giron, multiprofissional, meio artista. Sou uma eclética em termos musicais. Sempre cantei, ouvi muita coisa, e “arranhei” os instrumentos - rrrrrrr .... (sério que eu disse isso na aula? vergonha alheia de mim).😊
Não, não entendo nada de hip-hop, rap, trap. Verdade. Ouço o som, gosto ou não gosto, mas quem me conduz pelos descaminhos do spotify é Joaquim, meu filho de 14 anos, que não esconde sua impaciência quando não consigo identificar o que é o quê. Mas antes de me atirar no profundo atlântico que separa a minha geração da sua, e isso não é nenhuma desculpa, deixa eu me redimir aqui e dizer que adoro tudo isso. Adoro tanto mais quanto mais conheço a origem.
(E aí? que tal um “scratch”? arranhar vinil tem mais a ver com essa exposição do que minhas investidas frustradas no violão acústico.) 😉
Para ler: Mostra Afrofuturismo - Cinema e Música em uma diáspora Intergaláctica - texto de Ashley Clark
Para ver: Space is the Place (SUN RA) - youtube
Pesquisa aí: Sun RA,
Public Enemy,
Flying Lotus,
George Clinton (Parliament, Funkadelic)
Public Enemy (grupo ligado a movimentos sociais e movimento negro)
Spike Lee - Can´t Truss it,
Mothership Connection,
Lee Scratch Perry,
sampleamento - colagem musical -
Afrika Bambaataa,
DJ Spooky
Comentários
Postar um comentário