Artes e Imagens de Satélite – Exposição “Padrão Fifa”

Ao iniciar sua exposição sobre a aula, a professora Karla chamou atenção sobre um fato que eu nunca havia pensado: a questão da enorme quantidade de imagens que são produzidas diariamente pelos diversos meios disponíveis (smartphones, câmeras de vigilância, drones, Google Street View, etc). Aliado a isso, o fato de como a relação das pessoas com a fotografia e a imagem mudou ao longo dos anos, haja vista a enorme quantidade de imagens que uma única pessoa é capaz de produzir e armazenar, hoje em dia.

 

Imediatamente, lembrei da minha infância e de como uma fotografia custava caro e era extremamente mais difícil produzi-la do que nos tempos atuais. Lembro que nos passeios de escola minha mãe me presenteava com uma câmera descartável com apenas 12 “poses” (fotografias). Quantos natais em família já não foram registrados com um filme de, apenas(?), 24 fotografias? Pois é, a foto, naquele período, precisava ser muito bem pensada, o momento certo para fotografar, prender a respiração para não perder a foto, ir até uma gráfica revelar os filmes, se divertir com a surpresa reveladas pelas fotos até a revelação, lamentar as “poses” perdidas ou tremidas. A fotografia tinha valor.

 

E hoje, ela ainda tem?

 

Essa é uma pergunta que me causa sentimentos controversos. Apesar da imagem ser algo que possui muito valor no modo de vida moderno, a fotografia em si tornou-se algo descartável. O que é feito com a enorme quantidade de fotografia que produzimos? Alguém ainda tem o hábito de revelar as fotos de um aniversário? Ou elas ficam perdidas nas nuvens e álbuns virtuais, aguardando a quinta-feira em que serão republicadas em um “tbt”?

 

Inspirado pela aula e pelo artigo “Fotografia hoje – práticas implicações e estéticas” (BRUNET, 2017), que trouxe a tona a discussão mencionada acima e, também, acerca da ecologia das imagens, a professora Karla nos propôs realizar um ensaio com imagens que já existem, e que podem ser retiradas na internet através de câmeras de vigilância, Google Earth e Google Street View.

 

Pensei bastante sobre o ensaio que gostaria de fazer e, conforme a Copa do Mundo do Qatar se aproximava, resolvi fazer um ensaio sobre os estádios de futebol.

 

Quando penso em Copa do Mundo, penso em uma arena de batalhas e que, nem sempre, essas batalhas estão restritas as quatro linhas do gramado. Desde sempre o futebol é palco de guerras e disputas culturais, econômicas, publicitárias e políticas. Como diz a frase anônima: “NÃO É SOMENTE SOBRE FUTEBOL”. Muita coisa está em jogo.

 

Mais recentemente, grandes eventos esportivos passaram a ser utilizados pelos países sede como estratégia publicitária de SoftPower ou SoftSkills, como foi o caso do Qatar. Não é segredo que o país sede da Copa comprou (literalmente) a sua indicação como sede da Copa do Mundo de 2022. Sua estratégia foi a de tentar mostrar ao mundo uma imagem de país moderno e aberto, supostamente pronto para receber turistas de todas as raças, credos, gênero e etnias. Uma grande mentira que ruiu antes da bola rolar nos gramados, haja vista que, mais de um ano antes da abertura da copa, pipocavam na imprensa internacional denúncias de descaso com a segurança laboral dos funcionários envolvidos com a construção dos estádios, bem como, episódios de misoginia e homofobia, que são constantes naquele país.

 

Apesar da Copa ser no Qatar, recentemente (apenas 8 anos atrás) o Brasil sediou uma Copa do Mundo e todos lembram as polêmicas que giraram em torno daquela Copa e da construção dos “estádios padrão Fifa”, bem como, da cobrança da população por escolas e hospitais “padrão Fifa”, feitas durante as manifestações populares de 2013 e cujo triste desfecho nós já conhecemos.

 

Sendo assim, para minha série de imagens retiradas através do Google Street View, eu escolhi iniciar com o Coliseu, como forma de representar as batalhas e disputas que ultrapassam o futebol. Em seguida, escolhi imagens dos 4 principais estádios brasileiros construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014, dando um tom dramático e belicoso durante a edição das fotos.

 

Segue abaixo a minha Exposição “Padrão Fifa”.




Coliseu (Roma/Itália)




Maracanã/RJ




Itaquerão/SP




Fonte Nova/BA




Mineirão/MG


Pedro Paulo Rodriguez Guisande Silva

 

Referências

BRUNET, Karla. Fotografia Hoje: práticas, implicações e estéticas. In: Colóquio de Fotografia da Bahia, 2017, Salvador. Anais do Colóquio de Fotografia da Bahia. Salvador: Escola de Belas Artes UFBA, 2017. Disponível em: <http://www.coloquiodefotografia.ufba.br/fotografia-hoje-praticas-implicacoes-e-esteticas/>. Acesso em: 22 de nov. de 2022.

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