Glitch e ruído
Glitch é o termo utilizado para uma falha técnica de algum sistema de informação. Neste caso, a Glitch Art utiliza-se destas falhas como uma forma de estética artística de intervenção baseada na inserção de erros que manipulem as obras. Geralmente, esta manifestação artística é construída através de um software de edição de arquivos, responsável por causar essas “falhas” e distorções em determinadas obras. A esta operação é chamada de databending.
Contudo, o glitch não se resume às obras visuais. É,
também, um gênero musical surgido na década de 90 e que utiliza-se de falhas e
efeitos causados por instrumentos musicais, sejam eles eletrônicos ou
analógicos, como, por exemplo: falhas ou mau funcinamento de equipamentos
eletrônicos, zumbido elétrico, salto de faixas de CD, distorção digital ou
analógica e etc.
Um bom exemplo audiovisual de Glitch é o vídeo arte disponibilizado
pela professora Karla:
Enquanto isso, o texto de Douglas de Paula tem o objetivo
de debater a Glitch Art a partir de uma outra discussão acerca dos legados do
Modernismo: corrente funcionalista x correntes ligadas ao Dadaísmo. Enquanto
uma acredita em uma arte utilitária, a outra tem a pretensão de liberar a arte
de todo o seu aspecto funcional (DE PAULA, 2010).
Ler o artigo me pôs em dúvida e me causou um enorme
conflito: é possível exigir da arte uma função ou finalidade prática? Para que
seja considerado como arte, esta característica é mesmo necessária? A arte já
não possui um fim em si mesma?
Talvez a passagem do texto, responda alguns destes
questionamentos:
“Argan (1992, p. 353) explica que, com o
Dada, a arte deixa de ser um modo de produzir valor, repudia qualquer lógica, é
nonsense, torna-se livre de ter finalidade ou valor, já não é senão um sinal de
existência, mas significativo, quando tudo o mais ao redor era conflito e morte.”
(DE PAULA, 2010).
Em outra passagem, conclui:
“Duchamp não pretendeu desfigurar uma
obra prima, mas sim questionar a veneração que a opinião comum lhe atribuía de
forma passiva, sem perceber onde se depositava, de fato, o seu valor. A pars
construens do Dada estaria nos ready made duchampianos sobretudo. Esses ready
made eram objetos do cotidiano, com função específica, que eram retirados de
seu contexto e perdiam essa função. Um desses objetos é um mictório, que
Duchamp chegou a assinar. Assim fazendo, o artista atribuiu valor estético a
algo comumente destituído de valor em si mesmo: “retirando [o objeto] de um
contexto em que, por serem todas as coisas utilitárias, nada pode ser estético,
situa-o numa dimensão na qual, nada sendo utilitário, tudo pode ser estético”
(ARGAN, 1992, p. 358).” (DE PAULA, 2010).
Ao final do texto o autor faz uma reflexão sobre a
porosidade que as artes digitais causaram entre a comunicação e as artes, tendo
em vista que ambas advêm do mesmo nascedouro. Em suma, o autor traz ao debate a
noção de uma arte como produto (se é que assim podemos chamar), argumentando
que o ideal, talvez, viesse de uma arte mais fruída, criando uma dinâmica diferente
com os seus usuários.
Pedro
Paulo Rodriguez Guisande Silva
Referências
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